"- Já é tempo de acabar o século do rato e começar o da andorinha - disseram os mais resolutos. E de facto já sob o torvo e mesquinho predomínio dos ratos se sentia, entre a gente menos à vista, incubar um movimento impetuoso das andorinhas, que apontam para o ar transparente com um ágil golpe de cauda e desenham com a lâmina das asas a curva de um horizonte que se alarga.
Voltei ao cabo de vários anos a Marozia; a profecia da Sibila considera-se cumprida há muito tempo; o velho século está enterrado; o novo está no auge. A cidade mudou, claro, e talvez para melhor. Mas as asas que vi por toda a parte são as de desconfiados guarda-chuvas sob os quais pálpebras pesadas se baixam sobre os olhares; há gente que julga voar, mas já é muito se se elevarem do solo desfraldando balandraus de morcego."
- Italo Calvino, "As Cidades Invisíveis"
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