De onde tinham vindo os eucaliptos?
O pai plantara-os na sua ausência, durante a recruta. Mas, confrontado, o velho negara. Os eucaliptos sempre ali tinham estado, dissera-lhe. Que já o seu paizinho os havia plantado, e que ele se limitara a acrescentar mais alguns. Era árvore que crescia rápido, e garantia bom dinheiro. Ele discordara. Não se lembrava daquelas árvores ali. Iam secar tudo. As pereiras, as nogueiras, a horta. Iam dar cabo do quintal do avô. O pai mandara-o deixar-se de merdas.
Pela primeira vez, desde que se lembrava, sentira o terrível poder da mudança. Inelutável e irracional. Avassalador triturador de memórias, que se tornavam cambiáveis por dinheiro. O refúgio idílico da sua infância era e não era ao mesmo tempo. Todos os dias o esperava, do lado de lá da rua, quando acordava, com uma cara e nome novos que nunca mais poderiam ser alterados.
Reprimiu o que sentia com mestria, como aprendera em casa e na tropa. Por pouco não vertera uma lágrima. As boas memórias já não existiriam no mesmo plano da realidade. Apenas a mudança e as suas consequências eram certas. Quem não mudasse nada, seria mudado. Aprendera a lição à primeira. Fora sempre bom aluno.
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